6.12.2010

Momentos Paulistanos *09

Ainda era outono, mas o frio castigava a cidade de São Paulo, com uma garoa fina, típica e característica da cidade. Ele acordou com os cabelos desgrenhados, olhou pela janela e o dia estava cinza e o vento balançava as arvores. Um banho demorado, uma roupa qualquer e sem nenhuma feição chegou ao escritório, cumpriu o ritual do "bom dia!", sentou-se a mesa e leu seus e-mails, como de costume. Goles de café para acordar, ou para se animar, pena que naquele dia ele não queria ser visto, não queria falar, não queria nada - ou tudo. Lembrou de sua vida pacata, de sua barba por fazer, dos dias neutros e dos filmes que assistira a semana anterior por não ter o que e com quem fazer. Brindou com a solidão a ausência do amor. Engoliu a valiosíssima champanha francesa com raspas de vidro. Reparou nas bocas falantes sem som a sua volta, mãos gesticuladas, barrigas por baixo de gravatas, cachecóis e copinhos de café a todo o momento sendo jogados no lixo. Observou o porta-retrato ao lado do seu monitor, ele abraçado por detrás dela, os dois sorriam numa paisagem exuberante; baixou a foto, baixou a cabeça, respirou fundo, subitamente virou-se para mesa detrás (dela) com a foto nas mãos e disse:
- Acho melhor a foto ficar com você. Acho melhor eu pedir as contas.