1.30.2008

Metade de Mim...

METADE

“Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito, não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe, seja linda ainda que tristeza. Que as palavras que falo, não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento, porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço e que essa tensão que me corrói por dentro, seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade não sei. Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito. Que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia, mas a outra metade é a canção. E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade.....também.”


(Oswaldo Montenegro)

1.24.2008

Estou de volta aos palcos...

MINHA NOSSA de Carlos Alberto Soffredini.

A diretora Renata Soffredini, 45, reestréia a encenação de "Minha Nossa", peça do dramaturgo Carlos Alberto Soffredini (que morreu em 2001) no dia 25 de janeiro em São Paulo.

A peça estreou em dezembro em curta temporada, de apenas quatro apresentações, no Teatro dos Satyros 2. Agora, ela volta para ficar até o dia 26 de abril com apresentações às sextas e sábados.

O texto, segundo a diretora, não é um dos mais conhecidos do dramaturgo nascido em Santos.

"Mas eu gosto muito e acho que merece destaque. Também é uma forma de nos resguardar, de resgatar o trabalho do Soffredini...", disse a diretora.

"Eu também faço um teatro para público de teatro, para quem quer ver Soffredini, mas não tenho nada contra o público em geral", afirmou a diretora.

Com o trabalho, Renata Soffredini retoma a idéia do Grupo Estep --criado por seu pai, em 1985-- formado para o desenvolvimento de uma estética teatral popular, de circo-teatro, que o autor pesquisou na época em que estava à frente do grupo Mambembe.

A montagem atual de "Minha Nossa" é a terceira montagem do espetáculo, que parte de um fato real, acontecido na cidade de Aparecida (SP), no ano de 1978, quando um rapaz de 19 anos quebrou a imagem da padroeira do Brasil.

No elenco estão os atores: Adriano Veríssimo, Alex Morales, Fernanda Sanches, Ian Soffredini, Jefferson Coimbra, Luh Quintans, Marcos Barros, Marina Bastos, Regina Arruda, Silmara Garciah, Sílvio Giraldi e Soraia Revelino.

"Minha Nossa"
Quando: do dia 25 a 26 de abril, sexta-feira e sábado, às 24h
Onde: Espaço dos Satyros 2 (praça Roosevelt, 124 tel. 0/xx/11/3258-6345)
Quanto: R$ 20 (censura 14 anos)

(Matéria publicada na Folha de São Paulo -Ilustrada 10/01/08)




ESPERO VCS LÁ!

Beijo

Adriano Veríssimo

1.12.2008

Bolha

Ele acordou era quase meio-dia, com a cabeça pesada, com olhos inchados e olheiras saltadas. Locomoveu-se lentamente até o banheiro, olhou para o espelho e reparou seu cabelos desdrenhados, lavou o rosto , escovou os dentes, trocou a samba-canção por uma bermuda vermelha com respingos de tinta e sua camisa de academia que comprou na época que ainda malhava. Acendeu um cigarro, mesmo antes de ir pra casa de cima tomar o café. Parou na varanda de frente ao lago, colocou seus óculos escuros, pois o sol estava forte, e o seu corpo pouco ardendo da tarde de sol do dia anterior. Tomou um café nada convencional, com algumas uvas, yogurte, pão e peito de peru. Não pensava em nada, e quando abria a boca para dar bom dia, parecia que tinha engolido um urso, voz grave e meio baixa.

Apanhou seu protetor solar, seu cigarro, um caderno e um lápis que encontrou no canto da mesa. Descendo as escadas a caminho da piscina, sentiu-se lezado, tudo estava lento, parecia que o baseado da noite anterior, o Martini, as caipirinhas e as cervejas, ainda faziam efeito. Sentou na beira da piscina, colocou os pés dentro d´agua, e não pensava em nada, exatamente nada. Admirou as árvores em volta da piscina, que deixava cair algumas folhas, reparou no movimento das nuvens, e sentiu um arrepio, talvez pelo ventinho que batia, ou pela água, ainda um pouco gelada. Neste momento pensou nele, teve saudade, saudade sabe lá do quê, customizou como um jeans o sentimento que ainda sentia, e não via mesma beleza, nem mesmo enfeitado. Queria que ele estivesse ali, do lado dele, sentado, com os pés dentro d´agua, mas ele estava longe, longe em tudo.

Pegou o caderno e escreveu "Amor meu, partes agora que já não vejo mais em ti beleza que me atraia. Tentei enquanto pude. Partes agora e meu anjo não mais será, decido seguir enfrente, meu amor, meu momento rápido, intenso. Anjo, vai, e embeleze outro céu, não mais o meu."
Dobrou o pedaço de papel em algumas partes, olhou, reolhou, e foi para o lago. Parou a beira d´agua, respirou profundamente, e rasgou o papel em pedaços minúsculos. E os peixes em bolhas de ar vinham pegar os pedacinhos, os pedacinhos de um amor contrito, e ele observava os peixes, e ele observava as bolhas, e ele percebeu que a falta de tudo foi ar. Ele precisava respirar.

(Adriano Veríssimo 08/01/08 - baseado numa conversa com um amigo)