1.12.2008

Bolha

Ele acordou era quase meio-dia, com a cabeça pesada, com olhos inchados e olheiras saltadas. Locomoveu-se lentamente até o banheiro, olhou para o espelho e reparou seu cabelos desdrenhados, lavou o rosto , escovou os dentes, trocou a samba-canção por uma bermuda vermelha com respingos de tinta e sua camisa de academia que comprou na época que ainda malhava. Acendeu um cigarro, mesmo antes de ir pra casa de cima tomar o café. Parou na varanda de frente ao lago, colocou seus óculos escuros, pois o sol estava forte, e o seu corpo pouco ardendo da tarde de sol do dia anterior. Tomou um café nada convencional, com algumas uvas, yogurte, pão e peito de peru. Não pensava em nada, e quando abria a boca para dar bom dia, parecia que tinha engolido um urso, voz grave e meio baixa.

Apanhou seu protetor solar, seu cigarro, um caderno e um lápis que encontrou no canto da mesa. Descendo as escadas a caminho da piscina, sentiu-se lezado, tudo estava lento, parecia que o baseado da noite anterior, o Martini, as caipirinhas e as cervejas, ainda faziam efeito. Sentou na beira da piscina, colocou os pés dentro d´agua, e não pensava em nada, exatamente nada. Admirou as árvores em volta da piscina, que deixava cair algumas folhas, reparou no movimento das nuvens, e sentiu um arrepio, talvez pelo ventinho que batia, ou pela água, ainda um pouco gelada. Neste momento pensou nele, teve saudade, saudade sabe lá do quê, customizou como um jeans o sentimento que ainda sentia, e não via mesma beleza, nem mesmo enfeitado. Queria que ele estivesse ali, do lado dele, sentado, com os pés dentro d´agua, mas ele estava longe, longe em tudo.

Pegou o caderno e escreveu "Amor meu, partes agora que já não vejo mais em ti beleza que me atraia. Tentei enquanto pude. Partes agora e meu anjo não mais será, decido seguir enfrente, meu amor, meu momento rápido, intenso. Anjo, vai, e embeleze outro céu, não mais o meu."
Dobrou o pedaço de papel em algumas partes, olhou, reolhou, e foi para o lago. Parou a beira d´agua, respirou profundamente, e rasgou o papel em pedaços minúsculos. E os peixes em bolhas de ar vinham pegar os pedacinhos, os pedacinhos de um amor contrito, e ele observava os peixes, e ele observava as bolhas, e ele percebeu que a falta de tudo foi ar. Ele precisava respirar.

(Adriano Veríssimo 08/01/08 - baseado numa conversa com um amigo)

13 comentários:

Dani disse...

Nada mais necessário do que bsucar o ar. Especialmente depois de tantos excessos, de tanto o q se viveu e ainda há a ser vivido. Diante daquilo q está a ser dito...

E amigos, sempre bom tê-los por perto, para inspiração e expiação. rs

Bjo
;)

Kari disse...

Ah o ar!!! Eita coisinha preciosa, né? Nos momentos de dor é logo ele que falta. Na hora do choro é ele a quem buscamos desesperadamente...

E sim, escrever sempre ajuda, mesmo que os peixes terminem comendo...

Beijão

Auíri Au disse...

Sempre precisamos respirar, mesmo que seja amores, dores, tristezas...
os peixes vão levar o amor para onde quer que ele esteja!
assim como o mar....


Abraços


Auíri Au

Kari disse...

Ei moçinho!
Sei que a falta de tempo é uma droga mesmo... Mas saiba que, no meu cantinho, será sempre muito bem vindo, viu?
E eu venho aqui pois me sinto bem!!! E vou continuar vindo SEMPRE!!!!!

Um beijão pra tu

felipemaia disse...

Excelente texto!
Com um teor de identidade, fluência e uma boa análise da situação do rapaz...
Muito bom!
:D

Flavia disse...

Adoro ler textos com detalhes tão bem destacados. Não é necessário ser um Eça de Queiroz para que isso aconteça, se não a imaginação do leitor é tolhida, mas singelos toques que nos remetem a coisas simples porem importantes da trajetória do personagem criado pelo autor. Parabéns pelo texto.

O Velho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Velho disse...

Adriano é sempre Adriano é sempre Veríssimo!

Gostei do texto.

;-)

P.S.: Tem alguma coisa apagada aqui nesses comentários, ou é impressão minha?

Anónimo disse...

Pedaços de poesia aos peixes... até o ato de rasgar um papel, com palavras, seja poesia, ou não, causa poesia, interessante não?

Abraços amigo,

Feliz 2008!!!

Srta Butterfly disse...

Pedaços de uma história que chega ao fim...Mesmo sendo resgadas deixam suas marcas...LIndo texto...Muito bem escrito...Muito bem merecido o sobrenome Veríssimo!...

Volto mais vezes...Para sonher mais um pouquinho....

Anónimo disse...

Fazia um tempinho que não passava aqui...
Que texto lindo!
Conseguiu passar toda a emoção!

Os peixinhos podem ter comido os papéis, mas o sentimentos e o que foi vivido continuou.

Boa semana!
Beijooos

Anónimo disse...

Fala Dri, muito obrigado pela visita e saiba que fico contente em poder compartilhar sentimentos que são iguais a nós todos.

Grande poeta!!!

abraços.

Caroline Viana disse...

amo-te...

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