O que eu não aprendi foi que pra ser homem, tinha que suportar uma lata de concreto e suar debaixo do sol. Saber que homem não chora, agüenta, firme. Meus pais não me ensinaram a sonhar, aprendi nos contos de fadas, que assistia sozinho, sem companhia, e ouvia minhas músicas, bregas, e pintava meus quadros, feios, e assistia as novelas, e almejava a tv, e queria os palcos e queria a vida, e queria ser feliz. Enclausurado, minha infância não foi nada invejável, porém não reclamo do que passei, das brigas que assisti, das bebedeiras de final de ano dos meus familiares, a minha solidão no quarto escuro, e a minha felicidade de dançar a noite toda, sem saber o futuro que estava por vir.
Não me ensinaram a olhar as nuvens e imaginar formas e imagens. Sonhava em andar de avião e colocar o braço pra fora da janela e pegar um pedaço da nuvem pra mim. Minha avó, como quase todas as avós, tinha aquele calendário com a imagem de N. Sra. Aparecida, e nessa imagem tinham vários anjinhos em volta, e ela em cima das nuvens, e eu imaginava, que quando andasse de avião, viria a imagem e muitos anjos em volta dela. Nunca achei a imagem bonita ou feia, sei da lenda que ela tem, mas esse misticismo, essa crença exarcebida, sempre me trás uma curiosidade para conhecer cada religião, ou cada ponto fixo de energia e crença. Quando cresci, e viajei de avião, não consegui pegar a nuvem, e nem vi os anjos, nem a imagem, mas o sonho continua.
Ninguém me ensinou a sentir raiva, mas já senti e muita, de pessoas que pensavam que a criança, que achava que era ator, que pensava que sabia alguma coisa, aquele mascote de grupo amador de teatro, que mal falava, resmungava, no entanto sabia de seus sonhos, e de seu caminho predestinado. Era rejeitado por alguns, sim, algumas meninas mais velhas, que eram putas, dadeiras, e que não gostava daquele menino prestativo. Alguns caras, bichonas, alguns dadeiros também, não fazia questão de um menino de onze anos num grupo, onde o gozo espirrava a torto e a direita. Eu agüentava, me divertia com algumas coisas, porém aguardei, e dessas pessoas, não me lembro, e nem me faz falta.
Não me ensinaram que o amor não tem por que e nem por onde, não tem tamanho e nem diâmetro. O amor chegou a mim há muito tempo, aos cinco anos de idade, ou aos seis? Não me lembro exatamente. Lembro-me apenas que minha mãe me pegou algumas vezes chorando, e eu não sabia o por que do choro, mas sabia que doía, doía muito. Eu desenhava, não sabia escrever, eu falava sozinho, eu sonhava, eu tinha minhas excitações, e como sempre, nunca medi esforço para demonstrar que aquela pessoinha, pequenina, criança como eu, era meu amor, e aprendi que crianças amam mesmo, elas são sinceras, pois não precisam de beijo, nem sexo. Elas gostam de cartas, elas gostam de assumir o tal namoro, elas sentem-se bem, por estar junto, e o sorriso de amor de criança é branco, como o algodão doce do céu da imagem do avião e da falta, da saudade que tenho do "amor inocente" que senti, e que ainda sinto.
(Adriano Veríssimo 26/12 14h40)
12.27.2007
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9 comentários:
amor de criança,
amor sem brincadeira,
fiquei curioso: você ainda há tem perto de??
RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummond de Andrade)
•Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
•Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na Gaveta...
•Não precisa chorar de arrependimento pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de Janeiro as coisas mudem e seja claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
•Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo!
•Eu sei que não é fácil mas tente, experimente, consciente.
•É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.
Abraços
Nunca nos ensinam esse tipo d eocisa, pois devemos aprende-las sozinha (com dor as vezes)mas, sozinhos...
Que bom que aprendeu e agora pode escrever sobre, por falar nisso, escreve lindamente, expressa sentimentos maravilhosos
temos muitas coisas pra aprender sozinhos ainda...
Bjus
Que história, heim, Adriano? É tua mesmo?
Que se passa em teu coração? Dores de amor, como no meu?
Veríssimo,
e não me ensinaram a comentar... foi preciso aprender com seus textos para eu poder conhecer a verdade.
Foda demais véio.
Um abração irmão.
Alexandre Hallais
Que lindo moçinho! Lindo mesmo!
É, algumas coisas não ensinam pra gente, e acabamos aprendendo sozinhos. É bom por um lado, mas ás vezes seria melhor se soubessemos que iria doer tanto...
Ah! O "amor inocente"!!!! Que saudade dele!
Beijão e que venham muitos outros prendizados que nunca te ensinaram
Dri,na minha opinião seu melhor post, não se aprende a ter senssibilidade,não se aprende a amar.Isso vem de dentro, e o amor em todos os sentidos, querendo ou não acaba sendo inocênte.
Há eu roubei a musica do seu orkut, e coloquei no meu blog tá coração? kkkkkk
bjusssssssssss
E cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é?
Como não embarcar a bordo dessa viagem sem fim? Saudades daqui.
Que 2008 seja o melhor ano possível.
Bjos
VOCÊ SUMIU SEU FILHO DA ... MÃE BOA !!!!!!!!!!!!!
Obrigado por Blog intiresny
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