Esse post será grande, mas vale a pena ler.
Hoje explico o por que de tanto "Maria Bethânia" na semana passada. É que estava me preparando para o seu show no sábado, dia 08/12, no Citybank Hall.
Não seria pieguice alguma dizer que o show foi maravilhoso, e que tiveram vários momentos que saí de mim e viajei em outras dimensões. O show é poético, é forte, ainda mais que era dia de Iemanjá, então o público estava sedento e ela, Bethânia, radiante. Tive o privilégio de sentar na primeira fileira, com meu querido amigo Val. Puxa e como esse show foi marcante pra mim nesse ano de tantas lutas, tantos encontros e desencontros, ele veio para fechar com chave e com ouro esse ano. Val e eu, nos esbaldamos nessas duas horas de show, intenso, cada música, cada verso dito, cada poesia declamada.
E claro, é sempre um prazer expor aqui esses momentos bons da vida. Por isso, aí vai um texto do show, chamado Ultimatum. Esse texto foi o calafrio, o breu e a emoção, do momento.
Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir.
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vos que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.
(Ultimatum - Álvaro de Campos 1917)
"Amor é sede, depois de se ter bem bebido."
Hoje explico o por que de tanto "Maria Bethânia" na semana passada. É que estava me preparando para o seu show no sábado, dia 08/12, no Citybank Hall.
Não seria pieguice alguma dizer que o show foi maravilhoso, e que tiveram vários momentos que saí de mim e viajei em outras dimensões. O show é poético, é forte, ainda mais que era dia de Iemanjá, então o público estava sedento e ela, Bethânia, radiante. Tive o privilégio de sentar na primeira fileira, com meu querido amigo Val. Puxa e como esse show foi marcante pra mim nesse ano de tantas lutas, tantos encontros e desencontros, ele veio para fechar com chave e com ouro esse ano. Val e eu, nos esbaldamos nessas duas horas de show, intenso, cada música, cada verso dito, cada poesia declamada.
E claro, é sempre um prazer expor aqui esses momentos bons da vida. Por isso, aí vai um texto do show, chamado Ultimatum. Esse texto foi o calafrio, o breu e a emoção, do momento.
Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos.
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir.
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vos que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.
(Ultimatum - Álvaro de Campos 1917)
"Amor é sede, depois de se ter bem bebido."
"Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar."
"Pedrinha miudinha de aruandaê, lajedo, tão grande, pedrinha de aruandaê"
"Marinheiro, marinheiro, quem te ensinou a navegar? Foi o tombo do navio, foi o balanço do mar..."
"Debaixo d´agua tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar, mas tinha respirar, todo dia..."
" É meu querido amigo, a vida nos proporciona momentos e pessoas assim, amigos, que não sabemos explicar, mas que são essenciais para a nossa felicidade..." Obrigado Val por ser quem és. "Amigo não se faz, reconhece..."
"O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que a fingir que é dor, a dor que deveras sente..."
"Pensar em quem se ama, é como ficar a beira d´agua, esperando que o riacho, uma hora, esbarre de correr"
MOMENTO INESQUECÍVEL! SHOW GUARDADO AQUI DENTRO!
3 comentários:
Depois de acompanhar toda a "Semana Bethania", eu não podia não ler esse post.
Poxa, lendo isso, deu pra sentir tua emoção, sabia? Adorei!!!
E com isso, posso imaginar que tenha sido realmente maravilhoso esse show!!!!
Beijão
Assisti ontem o documentário pedrinha de Aruanda e bethania bem de perto e, hj, procurando o poema ultimatum, encontrei teu blog. Faço das tuas palavras as minhas. Pra mim, Bethania é uma artista talentosa e destemida que se permite a descoberta e o experimento em cada novo trabalho. O resultado é de uma simplicidade que encanta e comove a qualquer um.
ler todo o blog, muito bom
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