7.29.2008

Momentos Paulistanos...* 06

Olá meus queridos amigos BLOGUEIROS. Bom, hoje estou saindo de férias, um mês para descansar, ganhar energia e voltar com a corda toda.
[suspiro]
Peço desculpas pela a ausência nos "cantos" de vocês, mas é que estive nessa ultima semana sem tempo, mas prometo que quando voltar, recompensarei o tempo perdido.
Deixo um beijo grande a vocês e mais um "MOMENTO PAULISTANO". Espero que gostem.

.........

Dividia o apartamento com ele há dois anos. Fazia a feira de sábado, o supermercado de domingo de manhã, trabalhava numa agência bancária na Alameda Santos, seus pais moravam no interior, o que fazia-o dono de sua vida e de seus problemas; mas a dois anos morava com ele, não tinham muito contato, sabiam pouco um da vida do outro, era reservado e ele também; enquanto trabalhava no banco, não sabia o que outro fazia da vida, era tatuado, forte, aparentemente malhava bastante, careca e com estilo despojado, contudo, ele não faltava com suas obrigações, estava em dia com as dívidas divididas pelos os dois.
Certo dia, observou-o saindo do banho, só de toalha, pela primeira vez viu sua tatuagem das costas, que começa no meio perto das costelas e termina na bunda, mas não viu exatamente como terminava - a toalha cobria. Pela primeira vez, olhou diferente e ele percebeu, pois seus olhos o fixaram enquanto ele passava do banheiro ao quarto.
Passado alguns dias. Chegou em casa e se surpreendeu com ele, deitado só de cueca no sofá, de bruço. Ficou em silêncio, reparou em todo o detalhe de seu corpo, estava indo pro seu quarto quando ouviu:
- Vem aqui...
Não entendeu, olhou para trás e ele estava deitado, agora de frente - excitado.
- O que você disse?
- Deita aqui comigo.
- Pára cara, que idéia é essa?
Foi pro seu quarto e ele num salto do sofá, o agarrou por trás e o beijou. Não conseguiu se conter e os dois cairam na cama.
Em pouco minutos estavam nus.
Suor. Gemidos. Suspiros. Saliva. Camisinha.
Uma hora e meia depois, estavam deitados, abraçados e com a respiração sincronizada.
- Puxa nunca imaginei, você sempre reservado, nem sei nada da sua vida. Você até trouxe aquela sua namorada aqui.
- É...Eu não curto isso...mas é que queria com você.
[beijo longo]
- Ué, mas comigo? por que? o que eu tenho?
- Teus pais moram em Sorocaba, não é?
- Sim.
- Seu pai se chama, José Aparecido de Carvalho?
- Chama. Como você sabe? E o que que isso tem a ver?
- ...
- Responde.
- ...
Levantou da cama, incomodado.
- Acho que foi uma grande besteira.
- ...
- E você não fala nada?

[tempo]

- Teu pai...é meu pai.
- ...

7.24.2008

..espelho nas ruas

Um senhor negro, mendigo, passou na minha frente esta manhã, ele comia um pão, assim como nós comemos uma boa macarronada num domingo, digo, com muito gosto; mas era só um pão. Ele não cheirava bem, ele tinha as barbas brancas e os cabelos também, ambos grandes e sujos. Estava com uma sacola de supermercado e uma bolsa feminina no braço esquerdo, dessas de courino antigo; sapatos escorraçados e a calça nas canelas. Eu com um pacotinho de Ana Maria de recheio de morango, ele com o pão de ontem. Eu com minhas vaidades medíocres de classe média podre, ele junto a pobreza desse país mais miserável ainda. Ele passou por mim, eu não consegui respirar direito, o cheiro era forte. Eu passei por ele, mais um jovem cabeludo com seu empreguinho achando que será novo para o resto da vida.
A identidade que encontramos no espelho das ruas, faz com que eu pense
“O que será de mim quando eu crescer?”

7.16.2008

Parado

Eu quero parar de me organizar para fazer aquilo, isso ou o que for

Eu quero parar com esses risos neutros e sem cor

Eu quero parar de fingir que sou simpático com você, mesmo te odiando

Quero parar de me emburrar por nada e por quase nada chorar

Eu quero parar a noite e te admirar de frente a lua

Parar de fazer de algumas pessoas meu amuleto – delas, a sorte de ter quem eu amo

Eu quero parar de inalar a fumaça dos automóveis desta cidade poluída

Eu quero parar e beber contigo, aquele vinho a`sec que embriaga e instiga

Parar, observar, a alma e o vendaval

Quero parar enfrente ao mar, do teu lado, quem sabe me afogar

Eu quero parar de fugir

Eu quero parar pra ti

Eu quero parar pra sentir

Parar, mesmo parado, eu quero parar

Parar para gozar o gozo mais gostoso

Parar de me lamentar pelo leite que já secou

Parar de ler o livro da vida passada, revisada e apagada

Eu quero parar de fumar...só isso.

7.12.2008

Comigo

Quando sabia de mim, veio você e me apontou outro caminho. Perdido e confuso, sigo sem rumo a direção que trás ao coração conforto, mesmo com tantas fagulhas e folhas, a noite me trás o que não procurava, mas encontrei. Inerte, te procuro e não acho, venero e não tenho. O caminho está certo, o coração contente e na Aurora...você.

7.08.2008

Momentos Paulistanos...* 05

Bia cresceu pelas ruas do centro. Morou os primeiros anos de vida no Vale do Anhangabaú, depois na 23 de Maio e hoje no Cambuci. Quando ainda tinha dezoito anos parava enfrente ao prédio "Luz" da Av. Paulista e pensava na vida - na verdade não gostava de pensar, achava um trabalho doloroso e desnecessário, afinal para onde a levaria seus monótonos pensamentos?! “Lugar algum!” – pensava.

Precisava arrumar um emprego. Com a ausência de sua mãe e com seu irmão doente, não poderia viver da pensão miserável de seu pai, que não via há anos, sabia apenas que estava vivo pelo extrato mensal do valor que caía em sua conta. Enquanto sua irmã do meio, Amanda, cuidava de Paulinho, ela sairia para trabalhar. Acabara os estudos e sentia-se disposta e inteligente.

Numa cidade grande a concorrência é imensa e mesmo sendo inteligente e bem apresentável não conseguiu outro trabalho a não ser o de atendente na lanchonete 24 horas de frente ao MASP. Trabalhava em média de onze a treze horas por dia e todos os dias da semana. Precisava bancar os remédios de Paulinho, da doença que não era descoberta.

Numa quinta-feira, chegou cedo na lanchonete, colocou o avental e foi para a chapa, fez alguns lanches, quando o seu Berto a chamou e disse que era sua irmã no telefone, pensou no irmão.

"Ai meu Deus! Será que ele piorou? Ou será que não aguentou a alta dosagem dos remédios? Sabe, por um lado eu não aguento mais, ando tão cansada, tão exausta, trabalhando tanto ultimamente, não saio, fico em casa, sou mãe e pai ao mesmo tempo, até quando conseguirei viver assim? Se fosse melhor, preferiria que Deus o levasse para junto dele. Ficaria muito aliviada, assim poderia viver minha vida em paz..."

- Alô!

- Bia?

- Diz Amanda, o que foi?

- ...

- Amanda?

- ...

- Amanda, você está aí?

- Estou.

- O Paulinho....?!

- Está aqui, tomando os remédios.

- Então por que você me ligou!?

- Para te dar os Parabéns. Feliz aniversário! O Paulinho tá te mandando um beijo e disse que te ama!

Bia tremeu e se deixou emocionar. Havia esquecido do seu aniversário.

- Obrigada Amanda, eu levo um bolo pra gente comer a noite. Dê um beijo no Paulinho e diz que eu também o amo muito, que ele vai ficar bom...

Desligou o telefone.
Era sua família, seu irmão, as únicas pessoas que tinha.

Engoliu o gosto seco do pensamento torpe.

7.04.2008

Momentos Paulistanos...* 04

Morava na Martinho Prado, ao lado da Praça Roosevelt, desceu até a República, e parou enfrente a Planet, uma boate freqüentada por gays, lésbicas, travestis, simpatizantes e os que gostam de falar mal, mas são os comedores das travas, vulgos “machões”. Ele não se importava com aquilo, com esse mundo, pois com seus trinta e cinco anos de idade já havia conhecido de tudo e não se arrependia, porém hoje o que mais gostava eram garotinhas, novinhas, pequenas, apertadinhas.
Ficou no bar, ao lado do posto, tomou uma dose de conhaque, resolveu entrar numa outra boate chamada Freedom, freqüentada pelos menores de idade. Ele se excitava facilmente ao ver aquelas rodinhas de amigos e amigas rindo e ele imaginava por debaixo daquelas roupas coloridas os peitinhos das meninas que ainda se formavam e meninos que os pêlos ainda eram poucos.
Parecia de certo modo um animal, quem lê-se seus pensamentos o compararia com algum maníaco, pedófilo ou pervertido – mas não era. Era apenas um homem que gostava de ensinar aos mais jovens a forma de sentir prazer. Se assim o denomina-se, problema, ele não ligava.
Bebeu. Parado no balcão do bar. Alguns goles. Viu uma menina, loirinha, no centro da pista, entre luzes, neons e fumaça. Excitou-se. Desejou-a. Chamou-a de canto, jogou algumas palavras, ela riu, ele sorriu.
Dark-room.
Ele a abaixou. Ela chupou e ele gostava demais daquilo - “A menina moça é mais sabida do que eu imaginava”.
Beijos. Dedos. Mãos. Saliva. Dentes. Penetração. Escuro. Isqueiros.
E ela também gostou daquele homem, com cheiro de homem, pois com apenas quatorze anos não tinha dado para um homem tão mais velho, ainda mais naquelas condições. Enquanto a pegada acontecia, ela ficava imaginando contar tudo para suas amigas. Entre o suor e os sussurros ao pé do ouvido. Vinte minutos. Saíram e deram um beijo miúdo de tchau.
Ele voltou pra sua casa. Ela dormiu na casa da amiga. Ele assistiu “Philadelphia”. Ela contou tudo. Ele pensou na sua doença. Ela já pensava na semana seguinte e a nova aventura.
Ele morreu dois anos depois, vítima de HIV. Ela pegou o resultado hoje...
Positivo.