3.21.2009

Carta ao Pai

Pai, eu tenho medo de nascer. Eu tenho ouvido que lá fora é homem que mata homem por nada, que as mulheres não cuidam dos filhos, elas batem, elas matam também, elas não querem ser mãe. Ai pai, esses dias um amigo meu que estava para nascer e foi morto, a mulher que o teria, que ele chamaria de mãe, o destruiu ainda na barriga, e ele estava tão feliz pai, tão feliz, ele ansiava este mundo cinza de guerras.
Eu tenho medo Pai, eu tenho medo da fome, dos dias quentes sem fim e da sede humana pelo dinheiro. Ouvi esses dias na televisão, que o ser humano não conhece mais, não ama mais, ele ama por uma máquina, ele virtualiza sua vida e ama através de um computador, eu não queria ser amado por foto Pai, eu queria ser conhecido e pêgo no colo, receber carinho de minha mãe...será que ela vai gostar de mim Pai? Ouço ela dizer que me ama, mas ela nem me conhece ainda; e se ela espera que seja um menino forte, grande, bonito, de olhos claros? Ai Pai, me deixa viver aqui pra sempre, aqui pelo menos eu não me afogo em lágrimas e nem sofro desilusões. Às vezes Pai, eu ouço brigas, será que os meus futuros pais, se odeiam? E se me odiarem? Ai não gosto de brigas, eu não gosto de nada disso; eu queria era brincar no parque, chupar sorvete, me disseram que é bem gostoso, ah também queria brincar na chuva e escorregar na lama. Eu queria um cachorrinho, mas já ouvi minha mãe dizer que odeia animais. Eu queria ser uma criança feliz Pai, será que vou ser? Ai e a hora do parto? Será que eu aguento, eu tenho medo do tapa que o médico dá e me disseram também que é muito frio, que pela primeira vez vou me sentir sozinho e desamparado. Pai, me deixa ficar, eu tenho medo.

(silêncio)

Tudo bem Pai, eu vou, só me faça uma criança feliz e eu serei grato, prometo.

Pronto, estou pronto. Chegou a hora Pai. Vou nascer.

(Um choro agudo)



(baseado num conversa de amigos)

3 comentários:

O Menino Trovador disse...

Nascer, romper barreiras, sair do útero tudo isso dói. No entato é preciso, nossas condições físicas nos forçam a isso. Como será a nossa vida, pra onde iremos crescer? Ninguém nunca sabe, é um redemoinho de acontecimentos que indicará o caminho.

Parafraseando o poeta que via o mundo além do Bojador:

Nascer não é preciso...

nay disse...

Digo que sõ lindas palavras... com lágrimas aos olhos...

Permita-me colocar o seu link no meu blog? para não perder as atualizações...

bom fim de semana...

Adriano Veríssimo disse...

Murillo,

É...Navegar é preciso, viver não é preciso...

Valeu pelas palavras! E pela força!

= )

......

Morena Flor!!

É, falar de Deus, de mãe e de nascimento, é forte né!?
Como catarse, de mim mesmo, eu cada vez que leio esse texto, que veio brutalmente a mim, meus olhos umidecem...

= )

E claro que pode linkar minha Flor, farei o mesmo!

Um beijo enorme e obrigado pelas visitas e comentários!