
Passou o trem perto da igrejinha
Passou a senhora e a menininha
Andou longe o casal em sincronia
Encostou e feriu o acidente na rodovia
Molhou a chuva forte aquele menino orgulhoso
Corpo a corpo, na cabana, sussurro meloso
Concha, abraço, beijo no pescoço
E na cabeça o chapéu do outro
Passou o dia, passa lua
O grito mudo, a carne crua
Mergulhou fundo na lama suja
Cá dentro dói e a mão sua.
Jogou a sorte no lixo da rua
Pesou na balança da candura
Obedeceu o desejo, volúpia
Passou detalhes e o pedido de desculpas
Passou o boi e no chifre: um laço
Borrou e coloriu o rosto do palhaço
Na calçada a marca e os estilhaços
E na estrada longa marca d´outros passos
Melindrou, cutucou, sacudiu
A pedra atirada do menino, feriu
Esfumaçando a obra de arte que sumiu
Na semana anterior em que o sentimento faliu
Passou o passaro e a bandinha
O menino e a prainha
E a perola na ostra, era amor
que se tinha.
(Adriano Veríssimo)