Sabe mãe?! Lembro de como éramos cúmplices, cúmplices de dias inteiros juntos. Eu com meus afazeres diferentes e os seus de do lar. E as minhas satisfações eram somente pra você que eu devia, que não me julgava, só corrigia.
Você nunca me bateu né mãe? Mas tenho apanhado tanto na vida e as vezes fico com hematomas, no peito, lá dentro.
É verdade...bem que você dizia “Para aproveitar enquanto menino eu fosse, pois era a época mais gostosa da vida”, mas eu quis crescer, ser homem, dono do meu próprio nariz – tolo né mãe!? – fazer o que se é assim!?
Tenho saudade mãe, saudade de ser menino, de correr e se perder, de voar bem alto e cair atrás do sofá. De mirar um ponto e arremessar o aviãozinho de papel. De brincar muito, capotar de cansaço no chão da sala, adormecer, você me botar pra dormir e deixar-me tomar banho no dia seguinte.
Saudade mãe, uma saudadezinha, de não precisar saber quem eu era...só ser.
Só sentir, só viver, só sentir saudade de quando isso tudo passasse e eu não percebesse.
E passou.
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