São horas, inúmeras, vividas no mesmo lugar. Pronto. Está pronto. Preciso mudar. Pronto. Está pronto. Vou pra lá e deixo aqui minha infância, os riscos de giz de cera na parede, as corridas pelo corredor, a coleção de tatu-bola, os cachorros que tive, os churrascos aos fins de semana, o riso estonteante dela, as pisadas fortes no meu teto, o pedaço de folha pedido pelo pequeno num domingo de manhã e o rostinho que muda meu dia, todos os dias. Pronto. Estou pronto. As horas, inúmeras horas que me fizeram, que marcaram minha vida, minha infância, minha santidade. Aqueles dias de muito choro, choro das partidas, que doeram, e doem. Comemorações inúmeras, o canto que eu pintava minhas telas e os abraços e beijos dela, que mais amo nesse mundo. Grito por ela. Sempre gritei por ela, ela que me ensinou a não mexer em nada na casa dos outros. Ela que me ensinou a ser honesto, a qualquer custo. Ela que me fez ritualístico, em querer respeitar o que é lar e não apenas moradia. Ela que faz chá quando estou gripado. Ela que exige respeito, mas respeita o menino, seu filho menor.
Pronto. Estou pronto. Olhando para casa, respirando fundo, colocando o chapéu, pegando a mala e seguindo para o que a vida tem a me oferecer. Sozinho.